O que são os óleos essenciais?
Os óleos essenciais (OE) são compostos naturais, voláteis e complexos, caracterizados por um forte odor e alta concentração. Sua extração pode ser realizada por várias técnicas como arraste a vapor, hidrodestilação, prensagem a frio, extração por solventes orgânicos, extração por alta pressão e extração por CO2 supercrítico. Folhas, flores, frutos, talos, caule, haste, pecíolo, casca e raízes são utilizados como matéria prima para a extração.
As plantas produzem compostos que utilizam para sua alimentação e nutrição, mas também produzem outros que não são utilizados diretamente nessas funções. Os óleos essenciais estão entre esses compostos secundários e exercem funções de autodefesa, atração e proteção, auxiliando-a em sua sobrevivência. A produção dos óleos essenciais acontece conforme a necessidade da planta, ou seja, se ela precisa repelir insetos predadores ou outras espécies concorrentes por espaço, nutrientes do solo e luz do sol irão produzir um tipo específico de óleo. Essas substâncias extraídas das plantas são encontrados na forma de pequenas gotas entre as células, onde agem como hormônios, reguladores e catalisadores.
Seu papel é ajudar a planta a se adaptar ao meio ambiente, funcionando como uma proteção às intempéries e predadores. Em outros casos, pode produzir um óleo essencial que irá protegê-la contra agentes patógenos, como fungos e bactérias, ou contra altas temperaturas, mantendo a temperatura estável e evitando a perda de água. Para atrair insetos polinizadores são produzidos óleos essenciais nas flores, por exemplo, e assim ela consegue se multiplicar e manter sua espécie. Àqueles obtidos das resinas das cascas das árvores terão uma ação especial de regenerar a planta. Isso é fascinante, a natureza é elaborada de mínimos detalhes e cada um deles tem a sua devida importância. Por isso, a atuação dos óleos essenciais em nós é tão ampla, varia muito conforme o óleo utilizado e também com a maneira que ele é utilizado.
Por exemplo, a mesma espécie de alecrim poderá produzir diferentes óleos essenciais se for cultivado em ambientes completamente distintos. Àquele que for submetido à, altas temperaturas, irá desenvolver maior quantidade de uma substância que o protegerá desse calor e o outro que for submetido a um solo com, outros nutrientes, poderá produzir outra substância em quantidade maior. Sendo assim, teremos a mesma espécie com dois subtipos, como se fossem duas raças. Por isso, encontramos no mercado o alecrim qt cânfora ou qt cineol.
Os óleos essenciais apresentam diferentes propriedades biológicas, como à ação larvicida, atividade antioxidante, ação analgésica e anti-inflamatória, fungicida, e atividade antitumoral. Eles também são usados por seus efeitos sobre os estados emocionais e mentais. O OE de Lavanda, por exemplo, tem um grande poder relaxante induzindo ao sono. Já o óleo de eucalipto tem um poder animador e revitalizante.
Essa denominação “qt” mostra qual o quimiotipo, ou seja, houve uma modificação na estrutura daquela espécie e esse é o componente em maior quantidade nela. Tudo isso terá influência no resultado, gerando uma composição química específica. Alguns desses fatores irão interferir na extração dos óleos essenciais para fins terapêuticos e medicinais. Por exemplo, algumas plantas produzem maior quantidade de óleo essencial, já outras terão que ser extraídas por métodos mais complicados e demorados. Da mesma forma, algumas plantas precisam de uma grande quantidade de máteria-prima para produzirem uma pequena quantidade de óleo. Tudo isso irá refletir na disponibilidade dos óleos essenciais e no preço, que pode ser mais, ou menos acessível.
Geralmente, estes óleos são utilizados pela Aromaterapia para melhora do humor, sintomas moderados de distúrbios como stress induzido pela ansiedade, depressão e dores crônicas, além do que parece ser terapeuticamente efetivo tanto para efeitos psicológicos do odor quanto para os efeitos fisiológicos da inalação de seus componentes voláteis.
Composição dos óleos essenciais
Dito isso, agora é hora de compreender do que os óleos essenciais são formados. Para isso é preciso examinar de forma minuciosa e ainda mais profunda a sua composição. Microscopicamente os óleos essenciais são formados por vários constituintes químicos, ou seja, estruturas muito pequenas com características diferentes e que podem causar transformações químicas no organismo humano. Esses componentes juntos é que definirão as propriedades curativas de cada óleo, por isso quando são combinados de forma diferente podem promover diferentes benefícios. Um único óleo essencial pode apresentar até 300 componentes químicos diferentes, já imaginou? Dentro desse frasquinho de 10 ml podem ter centenas de ativos terapêuticos. Isso significa que esse óleo essencial terá uma ação diversa e ampla, dependendo da concentração de cada componente presente nele.
Essa interação que ocorre entre os elementos do óleo essencial é chamada de sinergia. Alguns podem ter na sua composição mais de 84% de apenas um elemento e, no restante, outros componentes variados. Esse que está em maior quantidade é chamado de ativo majoritário. Alguns constituintes representam menos de 0,1% do total do óleo essencial, esses são os ativos minoritários. Então, eis aqui a resposta do porque os óleos essenciais são tão benéficos e conseguem atuar em frentes que, a primeira vista, parecem tão distintas. A ação terapêutica do óleo essencial está intimamente ligada tanto aos ativos majoritários quanto aos minoritários. Ou seja, quando um ativo é isolado quimicamente é possível verificar que ele não possui a mesma eficiência quando está sozinho. Por isso, aqueles pequenos resíduos ou traços dos elementos minoritários terão, também, um papel importante na hora de definir as qualidades do óleo. Todos dois são fundamentais e a concentração desses constituintes químicos é que dará ao óleo essencial sua particularidade.
Mas afinal quem são eles? Como foi dito anteriormente, existem cerca de 300 constituintes químicos que formam a base dos óleos essenciais. Eles fazem parte de famílias químicas, que podem ser Monoterpenos, Sesquiterpenos, Álcoois, Aldeídos, Cetonas, Ésteres, Fenóis, entre outras. A intenção aqui não é explicar a composição de cada família bioquimicamente, mas fazer com que vocês entendam qual a característica é dada ao óleo essencial a partir das estruturas moleculares dessas famílias. Serão citadas algumas propriedades gerais e específicas, e alguns exemplos de óleos essenciais.
Na família dos Monoterpenos teremos os constituintes α- Pineno, Mirceno, δ-3-Careno, p-Cimeno, Limoneno, Ocimeno, entre outros. São essas substâncias que trazem a característica de euforia, ânimo e disposição dos óleos essenciais. Eles são estimulantes, descongestionantes das vias respiratórias e ajudam na circulação venosa e linfática. Na pele, quando não são diluídos, podem provocar irritação. Não devem ser utilizados por pessoas que sofrem de insuficiência renal. Os terpenos são encontrados nos óleos essenciais como o Cipreste-europeu (δ-3-Careno), na Lavanda-verdadeira (Ocimeno e β-Pineno), no Tea-tree (Terpinoleno), no Alecrim-verdadeiro (β-Pineno) e, principalmente, nos cítricos como a Laranja-amarga (β-Pineno), o Limão-Taiti e Limão-siciliano (α e γ-Terpineno), e no Limão, Laranja e Mandarina (Limoneno).
Os Sesquiterpenos são muito eficazes nos tratamentos alérgicos e inflamatórios, como erupções e irritações da pele, coceiras e crises de asma. Em doses terapêuticas, praticamente não tem nenhuma toxicidade. São calmantes, relaxantes, sedativos e descongestionantes venosos e linfáticos. Geralmente são encontrados nas raízes e resinas das árvores. Equilibram o Sistema Nervoso e nos ajudam a induzir a meditação. Estão presentes no Orégano (Germacreno-D), no Ylang-Ylang (Farneseno), no Gengibre (Zingibereno), na Mirra (Elemeno), no Cipreste-europeu (Cadineno), na Copaíba (Copaeno), no Patchouli (Patchouleno, Gaieno), na Pimenta-Preta (β-Cariofileno) e no Cedro-do-atlas (Himacaleno), que é um dos mais ricos em Sesquiterpenos.
Os Álcoois são energizantes, tonificantes e equilibradores. São poderosos antissépticos e aumentam nossa imunidade. Nesse caso, serão mais utilizados por suas propriedades específicas do que por suas propriedades gerais. Por exemplo, o Santalol é um grande auxiliar em casos de insuficiência cardíaca e o Carotol é regenerador do fígado. Encontrados no Cipreste-europeu (Cedrol), no Patchouli (Patchoulol), no Eucalipto-glóbulos (globulol) e na Sálvia-esclareia (Esclareol). Outros tipos são encontrados na Palmarosa (Geraniol), na Manjerona-verdadeira (Tuianol), na Hortelã-pimenta (Mentol), no Gerânio-bourbon (Citronelol), no Tea-tree e na Manjerona-verdadeira (Terpinen-4-ol) e na Lavanda-verdadeira (Lavandulol).
Os Aldeídos aromáticos são anti-infecciosos potentes e imunoestimulantes. Como a Canela-do-ceilão (cascas) e a Canela-da-china (cássia) que possuem o Cinamaldeído. Já os Aldeídos terpênicos são potentes anti-inflamatórios, analgésicos, calmantes, sedativos e antifúngicos. Auxiliam em doenças reumáticas, articulares e que afetam o sistema nervoso. Muito utilizadas para gerar bem-estar e conforto, pois promovem o acolhimento. Podem causar alergias se utilizados diretamente na pele. Estão presentes nos óleos de Capim-limão-cidreira, Verbena e Bergamota (Neral e Geranial), Citronela e Gerânio- Bourbon (Citronelal).
As Cetonas terpênicas são potentes relaxantes musculares e expectorantes, combatem os vírus e os parasitas, ajudam a reduzir a gordura atuando no colesterol LDL (“ruim”). Utilizados em doses altas pode ser neurotóxico e entorpecer. Em doses baixas estimulam o Sistema Nervoso Central. Podem aumentar a pressão arterial e os batimentos cardíacos. É necessária cautela ao utilizar os óleos essenciais que possuem cetonas em grandes quantidades, como o de Hortelã-Pimenta (Mentona). Além desse, são encontrados também nos óleos de Alecrim-verdadeiro qt verbenona (Verbenona), de Alecrim-verdadeiro qt cânfora (Borneona) e de Eucalipto-glóbulos (Pinocarvona).
Os Ésteres terpênicos são anti-hipertensivos, anti-inflamatórios, calmantes, sedativos, analgésicos e antiespasmódicos. Ajudam a equilibrar o Sistema Nervoso e na produção de endorfinas, ou seja, promovem o bom humor, o bem-estar, o entusiasmo, a descontração. Indicados para pessoas muito estressadas, depressivas e viciadas em trabalho. Encontrado no Gerânio-bourbon (Formato de citronelila e de geranila), na Lavanda-verdadeira e na Laranja-amarga (Acetato de Linalina), no Cravo-da-índia (Acetato de eugenila) e no Ylang-ylang (Acetato de Linalina e Benzoato de isobutila).
Os Fenóis aromáticos são tônicos e estimulantes em geral. São os anti-infecciosos mais potentes, atuam contra bactérias, parasitas, fungos e vírus. São imunoestimulantes e antioxidantes. O eugenol tem a característica específica de anestesiar e induzir as contrações uterinas. São dermocáusticos, ou seja, não devem ser utilizados puros diretamente sobre a pele e mucosas. Podem ser utilizados em doses altas por curtos períodos e substituídos pelos álcoois terpênicos depois ou em baixas dosagens por longos períodos de forma preventiva. São encontrados no Tomilho qt timol (Timol), no Tomilho qt carvacrol e no Orégano (Carvacrol), no Cravo-da-índia e na Canela-do-ceilão (Eugenol).
Os Óxidos terpênicos são excelentes expectorantes e imunorreguladores. Descongestionantes respiratórios, ajudam a eliminar o muco, antibacterianos e antiviróticos. Harmonizam o Sistema Nervoso. Alguns deles devem ser evitados em bebês e gestantes. São muito utilizados em complicações no aparelho respiratório, asma, bronquite, sinusite, rinite e pneumonia. Podem cortar o efeito dos medicamentos homeopáticos. Encontrados no Alecrim-verdadeiro qt cineol e no Eucalipto-glóbulus (1,8 cineol).
Os Metil-éter-fenóis são antiespasmódicos, analgésicos, anti-inflamatórios e digestivos. Em doses elevadas e prolongadas podem causar toxicidade crônica, então devem ser utilizados com moderação e conhecimento. É muito utilizado para alívio de dores, principalmente reumatológicas e ginecológicas, porque evita espasmos e contrações uterinas, intestinais, estomacais e na bexiga. Complementa a ação contra vírus, bactérias e fungos de outras famílias. Encontrados, por exemplo, no óleo essencial de Funcho (Anetol).
Ainda temos as Lactonas, as Cumarinas, as Ftalidas, os compostos nitrogenados e os compostos sulfurados.
Conclui-se, portanto, que a personalidade do óleo essencial depende do que ele é formado, de qual é a constituição do seu “esqueleto”, ou seja, a sua estrutura molecular. Quanto maior a quantidade de componentes presentes nele, mais amplas serão as atuações terapêuticas. Podendo, sim, melhorar a saúde como um todo, ajudando a tratar desde uma irritação na pele, uma dor, um fungo na unha, até uma alteração neurológica. Proporcionar alívio do estresse ou interferir nas emoções e sentimentos, equilibrando-os, como já citado em edições anteriores desta Newsletter. Por isso a Aromaterapia é maravilhosa! Mas, como tudo nessa vida, deve ser utilizada com cautela e conhecimento. Mesmo sendo algo natural, os óleos essenciais são muito potentes e concentrados, já que tem tantos constituintes juntos, então uma pequena dose poderá ter um grande efeito. Lembre-se sempre: em Aromaterapia MENOS é MAIS.
fonte: MACHADO, B. FERNANDES, A. Óleos essenciais: aspectos gerais e usos em terapias naturais. Cad. acad., Tubarão, v. 3, n. 2, p. 105-127, 2011